Hoje eu trago para vocês uma entrevista muito especial que tive a oportunidade de fazer! Estive com a equipe do Jardim Sensorial do Jardim Botânico do Rio que, depois de um ano fechado, foi reaberto no dia 30 de julho. Coordenado pelo Setor de Responsabilidade Socioambiental do JBRJ, o projeto contou com o patrocínio da Brasil Kirin e do Instituto Masan.
De acordo com o engenheiro agrônomo Ulisses de Souza, um dos técnicos responsáveis pelo Jardim Sensorial, a reinauguração do espaço tem uma importância que ultrapassa a infraestrutura física.
– É uma questão histórica e emocional, de ter um apelo imenso do público pedindo para reabrir.
O projeto
Fundado em março de 1995 pela paisagista e diretora da Associação de Amigos do Jardim Botânico, Cecilia Beatriz da Veiga Soares, o Jardim Sensorial tem o objetivo de dar ao público a oportunidade de aguçar os sentidos.
– Caminhando pelas aleias do Jardim Botânico, me senti feliz pelo privilégio de poder usufruir de toda a beleza daquele imenso santuário verde que sempre me surpreende. Ocorreu-me, no entanto, com imensa tristeza, que apenas os deficientes visuais não possuem este privilégio. Os deficientes auditivos e paraplégicos, por exemplo, podem apreciar. Os únicos que eram realmente segregados eram os deficientes visuais.
Cecilia se propôs a planejar um recanto com características próprias, em que os cegos pudessem sentir e participar um pouco do que ela chama de “magia”. Com o aval do então diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Dr. Wanderbilt Duarte Barros, a paisagista iniciou suas pesquisas visitando o Instituto Benjamin Constant. Além disso, recebeu inúmeras publicações e especificações detalhadas de jardins do tipo existentes em outros países.
– Com a colaboração de professores do Instituto Benjamin Constant e de especialistas do Jardim Botânico, conseguimos elaborar um projeto, adaptando-o ao nosso meio ambiente e à nossa flora.
A reinauguração
No dia da reinauguração, Cecilia recebeu uma placa em sua homenagem. Para ela, este projeto é a realização de um sonho.

Oito monitores – sendo quatro videntes (que enxergam) e quatro DVs (deficientes visuais, com baixa ou nenhuma visão) – se dividem nos turnos da manhã e da tarde no apoio ao público visitante: Renata Alves, Maria Alice Tobias, Cesar Moreno e Natasha Martins Silva, que vieram do Projeto Pró-Florescer do JBRJ, e Luciano Baptista, Mariana Gonçalves, Samuel de Souza e Gabriel Faria, que foram indicados pelo Instituto Benjamin Constant.
Acompanhando os jovens está a gestora ambiental Larissa Vilela, que visitou o Jardim ao longo de três meses para fazer a ambientação com os monitores, dando treinamento e ajudando-os a se familiarizarem com o espaço.
– Nunca vi outro jardim sensorial ter a inclusão que temos aqui, porque a inclusão aqui não está só no piso e nas plaquinhas em braile.
“O essencial é invisível aos olhos”
Como disse Antoine de Saint-Exupéry, nO Pequeno Príncipe, “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. É mais ou menos por aí. Com a ajuda de uma venda, os visitantes são acompanhados pelos guias e passam a “enxergar” de uma maneira diferente.
– Eu sempre fui de tocar em tudo, sempre me mostraram tudo. Então, gosto de ser eu a estar mostrando agora, a fazer a pessoa tocar, a falar que não precisa ter medo. É um jeito de a gente mostrar o mundo da gente, de mostrar o que você pode perceber quando não vê – explica a monitora Mariana.
Entre as 57 espécies de plantas presentes no Jardim Sensorial, a jovem aprendiz Renata destaca a cinerária, que aguça a visão, a planta-tapete, que aguça o tato, o boldo chinês, que trabalha o olfato, a hortelã e o manjericão, que mexem com o paladar e a ninfeia, que mexe com a audição, por estar localizada dentro d’água, perto do chafariz.
A experiência de trabalhar no Jardim Sensorial tem sido muito bem aproveitada pelos guias. Para Natasha, estar ali faz com que ela estimule sentidos que muitas vezes, “lá fora”, são esquecidos.
– Estar aqui dentro é um prazer para mim. O Jardim Sensorial é uma experiência muito diferenciada. Estar aqui com as plantas e estimular os sentidos fornece mesmo múltiplas sensações.
Fotos: Ligia Lopes
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